Sujeito partitivo
O uso de expressões que remetem a partes, como a maiora de, a maior parte etc., requer atenção. Vamos estudar um pouco sobre elas.
_ Marialda Almeida, 14 de julho de 2022.
“Com razão ou sem ela, a opinião crê que
a maior parte dos doudos ali metidos estão
em seu perfeito juízo [...]”
(Machado de Assis, Papéis avulsos).
Temos muitas particularidades na gramática da norma-padrão da língua portuguesa. Por serem muitas, decorá-las não será a melhor saída, mas os manuais e dicionários de linguistas e gramáticos poderão nos ajudar nessa tarefa.
De forma especial, dois dicionários me ajudam muito nos trabalhos de revisão de texto, são eles: Novo Dicionário de dúvidas da língua portuguesa, de Evanildo Bechara, e Dicionário de dificuldades da língua portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla.
Assim, hoje, com base nesses dicionários, nosso post será sobre uma dúvida recorrente que, muitas vezes, faz travar qualquer escritor: a concordância do sujeito partitivo, que ocorre quando o sujeito é constituído por expressões como a maior parte de, a maioria de, grande parte de, parte de, boa parte de seguidas por um nome no plural (BECHARA, 2016), cujo verbo poderá ser apresentado tanto no singular quanto no plural:
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A maior parte dos trabalhadores recusou (ou recusaram) sair.
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Cegalla (2009) também indica algumas particularidades no caso de coletivo partitivo:
com orações adjetivas iniciadas pelo pronome que, o verbo dessa oração concorda no plural: “A maioria dos pinguins que chegaram das águas frias do sul não resistiu ao calor”;
o verbo deve ser apresentado no singular quando ele precede o sujeito: Morreu de gripe a maioria dos índios que tiveram contato com os brancos.
Sabemos que os escritores mais conservadores podem dizer que o "certo" é manter o singular no verbo, porém, temos duas grandes referências neste post - um deles o quinto ocupante da cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras (Bechara) - que, de acordo com estudos da língua, indica os dois usos como pertinentes. E referência é tudo nesta vida!
Lembre-se apenas que quando a frase tiver apenas a expressão “a maioria”, o verbo deverá concordar com ela: “A maioria ficou sentada”.
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Doudo é adjetivo arcaico na língua portuguesa brasileira, que evoluiu para “doido”, embora em alguns lugares de Portugal ainda esteja em uso.
Referências
BECHARA, Evanildo. Novo dicionário de dúvidas de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades de língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. de acordo com a nova ortografia. Rio de Janeiro: Lexikon, 2009.
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Escrito por Marialda Almeida, em 14 de julho de 20222
Mestre em Comunicação e Inovação pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul -USCS. Licenciada em Letras (Português/Inglês) pela Fundação Santo André (FSA) e em Pedagogia pela Anhembi Morumbi. Revisora desde 2019. Docente universitária das disciplinas nas áreas de Linguagens, Educação e Metodologia.